Herma Caelen (Foto: EVANA ORG) |
Herma
Caelen é ativista há mais de uma década. Entre muitas outras funções foi
Secretária Geral Honorária da União Vegetariana Europeia (EVU), foi precursora
da lista de discussão eletrónica animal-net e, mais tarde, da European
Vegetarian Animal and News Alliance (EVANA). Organizou várias campanhas
internacionais e tem sido uma grande apoiante da Semana Vegetariana
Internacional desde a sua implementação.
Por Mateus Mendes
O
Centro Vegetariano (CV) e a Rádio Defesa dos Animais (RDA) quiseram saber um
pouco mais sobre o trabalho de Herma.
CV/RDA:
Herma, obrigado por aceitares esta entrevista, apesar de habitualmente
preferires ficar nos bastidores. Em primeiro lugar, gostaríamos de saber o que
te motiva a ser vegetariana e ativista.
Resposta:
Penso que tudo começou na minha tenra infância, quando assisti à matança de um
porco. Aquela cena horrível tem-me perseguido desde então e, eventualmente,
conduziu-me ao estilo de vida vegetariano e a debruçar-me sobre o trabalho
pelos animais.
CV/RDA:
Por que decidiste dedicar tanto do teu precioso tempo aos animais e ao estilo
de vida vegetariano?
Resposta:
Os animais precisam imenso de amigos humanos e apenas quero fazer a minha
pequena parte. Com este objetivo em mente, experimentei vários caminhos, tanto
com resultados animadores como desanimadores. Todavia, qualquer que tenha sido
o resultado, tenho sempre aprendido muito!
CV/RDA:
Viveste em vários países e estiveste direta ou indiretamente envolvida em
várias campanhas. Na tua opinião, quais são os benefícios da cooperação internacional
e de que forma se pode tornar mais eficaz?
Resposta:
Embora nalguns países o sofrimento dos animais seja mais horrível do que
noutros, a crueldade para com seres inocentes e indefesos é um problema
internacional que exige atenção global. Infelizmente, por várias razões,
raramente é possível construir alianças internacionais abrangentes. Um dos mais
inultrapassáveis problemas é a barreira linguística, ou seja, frequentemente os
ativistas não sabem o que se passa no resto do mundo e, consequentemente, não
podem dar o seu contributo em campanhas promissoras nem utilizar
inteligentemente projetos alheios como exemplos para o seu próprio trabalho.
Penso
que promover o uso de uma Língua comum,
por exemplo, o Inglês, em combinação com uma sólida rede de comunicações
além-fronteiras poderia evitar estas comuns e contraproducentes situações de
isolamento nacional. Quando colegas meus de várias partes do mundo têm a
oportunidade de coordenar, aconselhar, apoiar e passar a palavra, a comunidade
inteira tem a possibilidade de ter impacto acrescido nos esforços individuais.
A cooperação internacional bem preparada pode trazer grandes benefícios e
chamar a atenção de políticos nacionais e regionais.
CV/RDA:
Tens sido uma acérrima defensora de chamar aos primeiros dias de Outubro
(geralmente de 1 a 7), a “Semana Vegetariana Internacional” (IVW). Estás
satisfeita com o resultado, até agora?
Resposta:
Estou, de facto, impressionada com a rapidez com a qual a IVW se tornou um
acontecimento anual atrativo. A campanha efetivamente enraizou-se e floresceu
em muitos países, incluindo a Albânia, Argentina, Brasil, Camboja, Canadá,
Croácia, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Líbano, Holanda, Nova
Zelândia, Portugal, República Checa, Rússia, Singapura, Espanha, Suíça,
Turquia, Reino Unido e Estados Unidos da América.
CV/RDA:
O que pensas acerca do potencial da IVW?
Resposta:
É enorme e está a crescer! A adoção global do sistema acrescenta constantemente
novas ideias e facetas ao projeto, tornando-o assim mais interessante para
vegetarianos, mas também para quem come carne e procura alternativas e
informação. Um outro aspeto atrativo da IVW é a possibilidade de partilhar
recursos através do uso e adaptação dos mesmos textos, imagens, folhetos e até
comunicados de imprensa, etc. relativos à campanha.
CV/RDA:
Sabemos que és também escritora. Qual costuma ser o papel dos animais nos teus
livros? As tuas personagens fictícias são vegetarianas ou não?
Resposta:
Os animais estão sempre “presentes”, quer como co-protagonistas importantes ou
até como heróis das minhas histórias. Bem, gosto de pensar que as personagens
que invento são vegetarianas, mas nalgumas histórias esta caraterística
específica fica omissa.
CV/RDA:
Nos teus livros, quem é a tua personagem predileta?
Resposta:
Sinceramente, não sei dizer. Tal como na vida real, são todos diferentes e
importantes, sendo que alguns são, decididamente, mais simpáticos do que
outros, mas se insistes numa resposta, diria que me sinto particularmente
ligada ao golfinho Star, um sensato e expedito intermediário entre pessoas e
animais.
CV/RDA:
Após anos a trabalhar para a causa dos direitos dos animais e vegetarianismo,
qual é a tua opinião em relação à situação atual? Está a melhorar ou a piorar?
Resposta:
Estou convencida que a situação para os animais está em vias de melhorar embora
ainda não sejam visíveis mudanças palpáveis. Por isso, mesmo que às vezes nos
tornemos impacientes, precisamos de continuar calmamente nos nossos respetivos
caminhos sem deixarmos que o desânimo belisque a nossa motivação.
Contudo,
o que deve parar são as frequentes e coléricas quezílias entre quem defende os
animais. Lamentavelmente, por vezes temos a impressão que atacarmo-nos
mutuamente se tornou mais importante do que alertar o público acerca das
terríveis consequências da produção e consumo de carne, assim como abordarmos o
patronato industrial, políticos nacionais e internacionais, bem como outros
decisores e especialistas.
CV/RDA:
Para terminar, gostarias de deixar uma mensagem para os nossos ouvintes e
leitores?
Resposta:
Bem, penso mesmo que o poder das pessoas é uma potente arma e que cada
indivíduo pode contribuir de forma muito valiosa para um bom futuro
vegetariano.
CV/RDA:
Mais uma vez obrigado, Herma, pelo tempo e por aceitares esta entrevista.
Os livros de Herma estão publicados em
Alemão, exceto um que foi traduzido para Inglês: “Paving the Way for Peace: The
Living Philosophies of Bishnois and Jains“. Este livro descreve o estilo de
vida de duas das mais pacíficas comunidades na Terra em textos elegantes com
belas imagens. Está disponível aqui: http://www.lppindia.com/servlet/lppgetbiblio?bno=000407